AS MARIPOSAS TAMBÉM
AMAM
Nos anos dourados, geração bossa nova, o jovem se envolvia em diversos relacionamentos amorosos. Primeiramente o romântico, quase platônico namoro de mãos dadas passeando na calçada, virgindade (da moça) preservada, só ultrapassava o permitido depois do noivado. Moças casadoiras, namoro até 10 da noite, apenas beijos e abraços excitantes.
Depois do amasso com a namoradinha,
normalmente o jovem frequentava os cabarés para o descarrego, extravasar seus
instintos com as raparigas. Cada qual tinha sua preferência, sua namorada, seu
xodó na zona.
Bem
diferente da juventude de hoje, quando a virgindade e a hipocrisia foram
banidas, jovens namorados transam sem remorso, sem pecado.
Pelos motivos sociológicos e
preconceituosos, a mocidade antiga visitava os cabarés constantemente, nem que
fosse para beber uma cerveja ou dançar no bordel com as mariposas do amor.
No bairro boêmio de Jaraguá existiam três
classes de profissionais, de acordo com o local de trabalho. Nos belos casarões
da Rua Sá e Albuquerque ficavam hospedadas as mais procuradas, jovens
prostitutas, muitas importadas da Bahia, Pernambuco, outras vindas do sertão
alagoano, da zona da mata, aonde o êxodo rural enxotava a população por falta
de uma política de fixação no campo.
As moças chegavam à capital cheias
de ilusão. Se não conseguissem vaga de empregada doméstica nas casas de
família, terminavam nos cabarés. Ao tornarem-se mais velhas, mais usadas, se
transferiam para a ZBM, Zona do Baixo Meretrício, o Duque de Caxias e o Verde,
nas imediações da Federação da Agricultura. Quando se tornavam cansadas de
guerra e de cruzes, findavam no Sovaco do Urubu, última degradação da
prostituição, perto do Centro de Convenções. Dali a maioria das mariposas do
amor, como chamava o poeta, acabava no cemitério.
Muitas histórias se perderam nas
noitadas dos cabarés de Jaraguá. Gente famosa, deputados, senadores, coronéis, capitães,
boêmios, escritores, subiram as íngremes escadas daqueles casarões em busca de
aventuras amorosas. Naquela época rapariga tinha namorado, muitas vezes se
apaixonava, como também alguns homens tiveram grande paixão por prostitutas
bonitas, como Fatinha Baiana, passou muito tempo faturando sua beleza, deixou
homens empolgados, apaixonados.
Certa noite na Boate Tabaris
apareceu Pedrão, um marinheiro, ficou encantado com Djanira, morena dos olhos
verdes da região de Porto Calvo, produto da miscigenação da colonização
holandesa. O marinheiro gaúcho se apaixonou pela meiguice, o carinho, a ternura
e a beleza da alagoana. Prometeu tudo para ficar só com ele. Entretanto,
Djanira era a mais disputada entre os clientes da pensão. Pedro se mordia de
ciúme quando sua amada entrava no quarto com outro homem. O navio estava
esperando atracação para carregar açúcar. Pedro, o marinheiro, ficou oito dias
em Maceió, curtindo sua paixão. Djanira se sentiu amada realmente pela primeira
vez na vida, também se apaixonou. Na despedida Pedrão prometeu voltar, Djanira
acompanhou o navio cargueiro se afastar do cais levando seu amor, sua vida. As
amigas bem diziam que rapariga não pode, não deve se enrabichar. Toda manhã ela
descia à praia, contemplando o mar que levou Pedro, na esperança que um dia ele
devolvesse seu grande amor.
O tempo passou, a paixão de Djanira nunca.
Certa noite ela dançava com um jovem tenente na Boate Tabaris, de repente não
acreditou no que via. Pedro, alto, musculoso, vestido com camisa listrada, chapéu
panamá na cabeça, em pé à sua frente, um sorriso enorme de felicidade. Djanira
afastou o jovem tenente, correu feito uma louca, abraçou-se com Pedro. Os dois
choraram, se beijaram, se acarinhavam, olhando nos olhos. A paixão foi maior, o
amor venceu. No quarto, mais sossegado, Pedro contou sua decisão, abandonou a
marinha mercante, retornou à Maceió para tirar seu grande amor do cabaré. Tinha
uma meta na vida, casar, trabalhar, viver a paixão, viver Djanira, sua mulher
inesquecível.
Hoje, casal maduro, três filhos e dois
netos, vive no bairro do Vergel do Lago. Desde aquela época Pedrão trabalha
dirigindo caminhão. Sustenta a família com o suor de suas viagens. A sina de
Djanira é a ânsia da espera, das viagens, compensando o retorno com carinho e
amor. Tiveram cuidado, discrição e até orgulho ao contar aos filhos a origem de
sua história, uma bela história de amor.
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